segunda-feira, 27 de julho de 2009

CAMPO DE SOBREVIVÊNCIA

Fig.5 - Dan Graham à beira do desespero...

Tal como eu, há muitos jovens que procuram uma espécie de campo de sobrevivência (uma espécie de bolha de protecção que os ajude a suportar melhor o perigo vertiginoso de estarem vivos). Porque não é nada fácil suportar os inúmeros perigos da vida! Este campo de sobrevivência seria uma espécie de cabana criativa ou então um refúgio intelectual, não só capaz de alimentar alguns dos nossos sonhos, mas também algumas das nossas mais exuberantes perversões (da ordem da paranóia, da esquizofrenia, da psicose obsessiva ou da deambulação libertária).

Parece-me que existe em Tancos (próximo do famoso Castelo de Almourol) o esqueleto anatómico de algo semelhante uma tal cabana (uma cabana perdida no fio do horizonte do rio Tejo). Será esta cabana parecida com a velha cabana de um pescador de enguias ou de trutas imaginárias? Ou será mais parecida com uma clássica tenda de campismo? Não, esta é uma tenda verdadeira (de madeira, com janelas de vidro, com bancos de pedra, e um forno onde se pode aprender a cozer o pão, exactamente como na Idade Média...).

Será esta uma cabana que pode ser utilizada nos roteiros do novo turismo cultural? Eu diria antes que é uma cabana mais indicada para bichos do mato (escritores sem qualquer livro publicado, artistas revoltados, investigadores solitários, poetas esquizofrénicos, velhos psicóticos, jovens libertários, músicos silenciosos, espíritos selvagens, jovens inadapatados ou cineastas amantes da natureza, etc). Estas seriam as castas sociais mais indicadas...radicalmente mais indicadas!
Uma espécie de turismo de e para amantes da arte-lixo-luxo (ou fartos dos novos luxos demasiado artificiais). Uma espécie de residência artística para os amantes do velho luxo (quase como se estes quisessem conquistar o tempo que foge à velocidade da luz nos grandes centros urbanos ou como se quisessem conquistar o velho silêncio da estepe Russa ou da montanha portuguesa). É nesta perspectiva que desejo criar uma nova forma de fazer turismo em Portugal (sem casa, sem PC, sem telemóvel, sem tv, sem jornais, apenas o fetiche da metáfora e da experiência errante de um nómada inquieto...). Eis uma nova forma de fazer turismo. Turismo criativo ou turismo de autor...

Nota: Reflectir sobre as breves considerações de Steiner feitas a propósito da cabana de Thoreau, apresentadas no livro «O silêncio dos livros, seguido de Esse Vício ainda impune», de Michel de Crépu. Livro editado pela Gradiva em Junho de 2007.

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