quarta-feira, 21 de novembro de 2012

DO FLÂNEUR AO CIBERFLÂNEUR

 
DO LÂNEUR 0000 111111AO CIBERFLÂNEUR
(fragmento de um ensaio recentemente publicado pela Relógio D`Água).

 
- Olá! Olá! Estamos aqui! Estamos aqui! Venham salvar-nos deste naufrágio, diria uma das vozes mais persistentes do Facebook, mas a verdade é que ninguém os parece estar a ouvir. Aqui, simplesmente, ninguém parece ter ouvidos para ninguém. Mais um clique e outro, e ainda outro, e mais outro, e assim sucessivamente, sem parar, quase até à exaustão. A verdade é que aqui não há nada para salvar, diria agora uma das vozes mais inquietantes do Twitter. Mas nós insistimos, na tentativa de nos tornarmos um pouco mais “populares” e assim menos infelizes, e então twittamos e facebookamos vezes sem conta, sem parar.
 
Afinal de contas, eu facebooko, tu facebookas, ele facebooka, nós facebookamos, vós facebookais, eles facebookam, ou então eu twitto, tu twittas, e assim, uma vez mais, sucessivamente, sem parar.vós facebookais
eles facebookam
Ou então conforme nos diz ainda Shaviro, quando escreve:«Assim que tal acontece, pouco importa que se esteja agarrado ou não, como receia Zizek, “apenas a simulacros virtuais” ou que, como afirma Heim em tom mais optimista, só agora se consiga “contactar com a realidade”» (Shaviro, 2002: p.206). Porque, afinal, o que importa é estar aqui, ali, acolá, além, em qualquer lado, em todo o lado. Quase como se fossemos os detentores do dom da ubiquidade? Ou então, como escreveu Jeter (1999), em Noir, fazendo ainda uma referência evidente à fórmula básica da dependência, a partir da célebre «álgebra das necessidades» de W. Burroughs (2002), amplamente desenvolvida no romance Naked Lunch, quando escreve: «neste momento, uma pessoa pagará qualquer preço apenas para se sentir outra vez normal» (Jeter, 1999: p.460).
 
É evidente que a partir daqui todas as fronteiras vacilam. Tal como no automóvel, mas agora com mais velocidade e intensidade, reduzimos e aceleramos vertiginosamente apenas para tentar ultrapassar tudo aquilo que ainda nos possa aparecer à frente. A adrenalina, essa, sobe no momento em que largamos a embraiagem. Depois disso, só uma certeza nos guia. A certeza de que não sabermos exactamente para onde vamos ou em que direcção é que estamos exactamente a circular. Mas, afinal, não é verdade que nos podemos simplesmente desligar (offline)? Será que podemos? Perguntem a quem por lá anda durante umas boas horas seguidas por dia, e logo obterão a resposta, que não será nada animadora, na maioria dos casos.
 
rcl42
Almeida, Eusébio - «Do Flâneur ao Ciberflâneur: breve digressão pelas práticas interactivas do espaço contemporâneo», in Genealogias da Web 2.0 (Org. Pedro de Andrade/José Pinheiro Neves), Revista de Comunicação e Linguagens, RCL, nº42, Lisboa, Relógio D`Água (2011), pp. 247-271.

Ensaio disponível em:  http://www.cecl.com.pt/rcl/edicoes/rcl-42-genealogias-da-web-2-0/72-literacia-e-literatura-na-web-2-0/276-do-flaneur-ao-ciberflaneur-breve-digressao-pelas-praticas-interactivas-do-espaco-contemporaneo
 
 Todos os ensaios disponíveis em : http://www.cecl.com.pt/rcl/edicoes/rcl-42-genealogias-da-web-2-0

Outros projetos de Eusébio Almeida (pintura/desenho/fotografia/vídeo, etc)

http://eusebioalmeida666.blogspot.pt/