segunda-feira, 21 de setembro de 2009


O NOVO PLANO TECNOLÓGICO


Eusébio Almeida, Performance (A caverna do facebook), Barcelona, 2009


«Todos nós temos necessidade de uma dessas ilusões protectoras, de uma nuvem que nos envolva e abrigue dos perigos do nosso tempo»
(a partir de Nietzsche).

PLANO A. entre a realidade e a ficção

Da «música do acaso» para o teatro da crueldade. Do cinema para a dança das cadeiras. Das artes plásticas para a poesia do código geral do trabalho. Da escrita concreta para a fenomenologia da carne (aprovada por decreto lei). Das tribos do polegar para as cicatrizes da mão esquerda (que luta contra a precariedade dos contratos a prazo). Porque a mão direita é essa máquina que alimenta a escravatura dos recibos verdes (no país dos contratos da treta), onde se escravizam milhares de licenciados, e se traficam mulheres à custa da lavagem de dinheiro sujo. Eis algumas das manobras do «capitalismo selvagem» a alimentar a tão famigerada «crise económica». Mas por sinal temos excelentes economistas (ministros, deputados, académicos, banqueiros, administradores, empresários…etc), a verdade, porém, é que eles têm mais que fazer do que tentar resolver esta monstruosa «crise económica». Aliás, o capitalismo é a arma que alimenta a alma dos corruptos. Por isso, é que o país está cheio de parasitas sofisticados, desses que desenham excelentes planos de pormenor, que nos permitem viver na cauda da Europa, e longe dos grandes projectos internacionais.

Mas não desanimem, dizem os patuscas do actual governo à medida que vão promovendo a grande «utopia» do Plano Tecnológico, como se este fosse uma verdadeira panaceia nacional, e não um plano de pormenor de um governo que acredita (ingenuamente ou não), que agora é que vai resolver os grandes problemas estruturais do país. A verdade é que estamos perante um plano cada vez mais inclinado que parece desenhar os três grandes pilares do futuro de Portugal na era da globalização (contra a teoria da saudade), ou seja, conhecimento, tecnologia e inovação/inovação, tecnologia e conhecimento. O círculo dentro do círculo. Os amigos dentro dos amigos. O circo repete-se. Os palhaços (são uma excelente figura de estilo) estão prontos para entrar no palco de uma qualquer assembleia da república virtual, e sussurrar ao ouvido dos eleitores algumas das medidas do novo ou do velho plano tecnológico.
Bibliotecas digitais. Criação de pólos tecnológicos. Facturação electrónica (agora é que o governo irá equilibrar o seu orçamento, como sempre à custa do Zé povinho, e não dos grandes empresários, que muitas vezes beneficiam de um regime especial de fiscalização – a fuga ao fisco. Ligação à Internet em banda larga (agora é que os milhares de analfabetos irão aprender a ler e a escrever, e com um professor virtual, então é que vai ser...). Bolsa de emprego científico (agora é que iremos todos conseguir emprego, para regozijo dos deputados mais preguiçosos). Laboratórios e redes de investigação com a participação das empresas (agora é que iremos evitar a deslocalização das nossas empresas para o estrangeiro, agora é que iremos evitar a fuga dos nossos cérebros, agora é que iremos ser geniais ou genitais, não se sabe).

Lá que o governo tenha um plano, mesmo que demasiado redondo, repetitivo, rasurado, isso estamos todos de acordo. Lá que o governo seja bom em matéria de retórica virtual, isso é uma indicação de que estudou bem as lições de marketing e publicidade. A verdade, porém, é que nada disto faz com que um plano (mesmo que estratégico) seja um bom plano, muito menos quando estamos a falar de um plano demasiado inclinado. Diga-se aliás, em abono da verdade, que em matéria de inclinação, temos tudo para ser os melhores do mundo, já que só nos falta evitar a queda e vencer o jogo da mediocridades e das assimetrias sociais e culturais, e depois é só deixar de bater com a cabeça no chão ou na parede e acreditar finalmente que é possível subir a escada da ilusão (fugir com o plano ou com a tecnologia na mão).
Dirão os leitores, que este plano tem o mérito de promover, pelo menos em teoria (teorias de bolso) o realinhamento de algumas ideias que se aproximam daquilo que seria um projecto ideal para um país ideal. Eu diria de forma vaga, que este projecto tem o vago mérito da cópia, que é a capacidade que os politicos tem de reproduzir em papel, aquilo que está constantemente a ser reproduzido no cérebro daqueles que acreditam que é possível (todos os dias) construir um mundo melhor…

PLANO B. Em construção...